terça-feira, 22 de janeiro de 2008
Conto de Circo...
Ergueu a cabeça e contemplou o lugar onde tantas vezes se apresentou para breves triunfos no trapézio. No dia seguinte desarmariam o circo, e na próxima cidade quando o reerguessem ele estaria longe. Nunca, porém haveria de esquecer aquela frágil armação de lona e tabique, as cadeiras desconjuntadas, o quebra-luz sobre o espelho partido e o modo como os aplausos e a música chegavam aos seus ouvidos.- Não vai sair daí hoje? – Interrogou Maria, que andava preocupada com a reação do trapezista diante do dia que estava para chegar. O dia em que o circo iria tomar novos rumos.O trapezista, porém, não respondeu. Estava extasiado demais, refletindo sobre os momentos inesquecíveis que passou diante daquele trapézio. Lembrava do momento em que era ainda um garoto e brincava com trepas-trepas como se nada fossem. Lembrou do momento em que o dono do circo o convidou para fazer parte da companhia e manobrar nos perigosos e temidos trapézios, lembrava dos momentos de medo e tensão em que sofreu antes de finalmente dominar o trapézio. Sorria sozinho lembrando dos momentos de estrelato em que viveu enquanto as pessoas aplaudiam sua performance ilustre. Maria vendo tudo aquilo começou a se assustar com reação do trapezista:- Confesso, imaginei que você iria choramingar o dia inteiro, mas vejo que está sorrindo! - A recíproca novamente não veio. O trapezista continuava a lembrar dos seus momentos, em que era ele, o trapézio e nada mais. Imaginava quem seria o próximo a manobrar o seu trapézio, sentia dores fortes como se alguém o chicoteasse para domar o leão raivoso que despertava dentro de si. Desejava a morte ao próximo trapezista, a mais triste e severa.- O menino! Você já está me assustando desce aqui pra gente conversar, anda! - Maria já estava ficando cansada de falar e falar e não escutar as respostas. Mas compreendia, afinal o que é de um trapezista sem o seu trapézio? Então resolveu sair e deixá-lo sozinho por uns instantes com o mesmo.Ele não reparou que ela saiu. Não enxergava nada mais naqueles momentos, seus olhos estavam inundados de lágrimas. Lágrimas de revolta e dor que jamais tinha sentido antes. Lágrimas insistentes em sair contra a sua vontade. No instante em que as lágrimas o cegaram, como num flash, relembrou toda sua vida no trapézio... As luzes, a música, os aplausos... E com os olhos fechados saltou, saltou sem ressentimento, sem querer a volta, sem querer saber mais de trapézio, sem querer mais da vida. Escutando imaginariamente, o som das palmas, das músicas e luz, muita luz.O circo foi embora... Guardando um ressentimento de que jamais em sua vida, conseguiria um trapezista que arrancasse tanto sentimento e paixão do público e de si próprio.
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Um comentário:
Gostei muito de seus textos garota...palavras bem utilizadas, idéias ótimas...
Em especial esse do circo, pude me identificar muito com ele...adicionarei seu blog nos favoritos do meu(quando puder, passe por la) e prometo voltar sempre que possível...
Beijos e cuide-se
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