quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Viagens

É estranho...É como perder o tato e deixar a caneta correr involuntariamente sobre o papel...É como ter a cabeça enfiada num aquário e só o que você ouve é a música que você deseja ouvir.
É uma independência dependente; é não precisar de mais nada ou mais ninguém para sentir...Os sentidos estão inativos mas a flor da pele e só o que você quer é isto dentro de você, é estar sempre neste espaço sem tempo ou noção. Este espaço estranho que te impulsiona a pensar coisas que estão fora deste contexto alienado.
A cabeça já não raciocina mais nada (e nem sequer quer raciocinar...); o que toma conta do corpo agora é o coração que bate, pulsante, num ritmo acelerado, único...Nada é válido, nada importa....Por meio deste relato de natureza indescritível escrito com alma, tinta e coração, deixo marccao o sexto sentido, a paixão em seu ápice, o apogeu dos declínios; e no final das contas é só isso que resta.

domingo, 27 de janeiro de 2008

E a vida passando...

Que atire a primeira pedra quem nunca sentiu que a vida está passando, as coisas estão acontecendo na sua frente e você pensa; e agora?!
O mundo está mudado...A frase de Oswald "O futuro será de toda humanidade" está se tornando mais uma ideologia utópica...O apalpável se torna intocável e o que antes era fato hoje não passa de incerteza...O que fazer?Se tornar mais um alternativo comum?Ser mais um conformista, que não passa de um inconformado que se corrói de dúvidas e revoltas?Um rebelde que já nem sabe mais para o que lutar ou por onde começar?
É...A vida passa...O cenário, até então lindo e bucólico, cercado de flores, torna-se uma paisagem cinza e urbanizada, cercado de pastas, obrigações, deveres e satisfações; A emancipação ocorre cada vez mais cedo e de maneira opressora...Fica a dúvida de evitá-la ou enfrentá-la.
Será que a raíz do homem é o próprio homem? Devemos então, plantar, para deixar frutos para a geração que nos substitui? Querendo ou não todos nós já sonhamos em mudar o mundo alguma vez; se é de forma revolucionária ou não, a história já é outra.
A solução para a mudança dessa sociedade escassa de oportunidades e farta de desigualdade é então a conversão do desejo e da vontade pela ação; aja, mude, anda, grite, evite a tragédia passional; a nossa vida pertence somente a nós...E a chance de mudá-la também.

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Conto de Circo...

Ergueu a cabeça e contemplou o lugar onde tantas vezes se apresentou para breves triunfos no trapézio. No dia seguinte desarmariam o circo, e na próxima cidade quando o reerguessem ele estaria longe. Nunca, porém haveria de esquecer aquela frágil armação de lona e tabique, as cadeiras desconjuntadas, o quebra-luz sobre o espelho partido e o modo como os aplausos e a música chegavam aos seus ouvidos.- Não vai sair daí hoje? – Interrogou Maria, que andava preocupada com a reação do trapezista diante do dia que estava para chegar. O dia em que o circo iria tomar novos rumos.O trapezista, porém, não respondeu. Estava extasiado demais, refletindo sobre os momentos inesquecíveis que passou diante daquele trapézio. Lembrava do momento em que era ainda um garoto e brincava com trepas-trepas como se nada fossem. Lembrou do momento em que o dono do circo o convidou para fazer parte da companhia e manobrar nos perigosos e temidos trapézios, lembrava dos momentos de medo e tensão em que sofreu antes de finalmente dominar o trapézio. Sorria sozinho lembrando dos momentos de estrelato em que viveu enquanto as pessoas aplaudiam sua performance ilustre. Maria vendo tudo aquilo começou a se assustar com reação do trapezista:- Confesso, imaginei que você iria choramingar o dia inteiro, mas vejo que está sorrindo! - A recíproca novamente não veio. O trapezista continuava a lembrar dos seus momentos, em que era ele, o trapézio e nada mais. Imaginava quem seria o próximo a manobrar o seu trapézio, sentia dores fortes como se alguém o chicoteasse para domar o leão raivoso que despertava dentro de si. Desejava a morte ao próximo trapezista, a mais triste e severa.- O menino! Você já está me assustando desce aqui pra gente conversar, anda! - Maria já estava ficando cansada de falar e falar e não escutar as respostas. Mas compreendia, afinal o que é de um trapezista sem o seu trapézio? Então resolveu sair e deixá-lo sozinho por uns instantes com o mesmo.Ele não reparou que ela saiu. Não enxergava nada mais naqueles momentos, seus olhos estavam inundados de lágrimas. Lágrimas de revolta e dor que jamais tinha sentido antes. Lágrimas insistentes em sair contra a sua vontade. No instante em que as lágrimas o cegaram, como num flash, relembrou toda sua vida no trapézio... As luzes, a música, os aplausos... E com os olhos fechados saltou, saltou sem ressentimento, sem querer a volta, sem querer saber mais de trapézio, sem querer mais da vida. Escutando imaginariamente, o som das palmas, das músicas e luz, muita luz.O circo foi embora... Guardando um ressentimento de que jamais em sua vida, conseguiria um trapezista que arrancasse tanto sentimento e paixão do público e de si próprio.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Quem?

Quem sou eu, quem és tu, quem é ali, quem é acolá.
Quem se encanta, quem não ama, quem não sente, quem não vive; quem não dorme, quem não chora, quem não come; penar.
Transcorre nesses versos o quem de minha'lma o quem de ti, o quem do povo, o quem de quem tem fome; fome de querer, fome de saber, fome de matimento...Fome.
Escrevo repudiando; repudiando a quem, repudiando a vista, repudiando o olfato, repudiando o paladar, repudiando a audição, repudiando o tato...Repudio, nesse instante qualquer manifestação de sentimentos e sentidos sigilosos e silenciosos; quero gritos, gritos, vozes, passos, correrias, pernas inquietas; de quem tem tudo e não tem nada a perder.

sábado, 19 de janeiro de 2008

Arriscando uma sinceridade...

Acho uma atitude engraçada, até meio dramática do homem a sua doentia necessidade por mudanças; uma busca infinita, constante, pelas coisas mais ínfimas possíveis; mas é nesta busca que está contida a felicidade.
Talvez a busca em si, seja a felicidade. Talvez seja como correr atrás do arco-íris pra tentar chegar finalmente ao pote de ouro; de um modo ou de outro, a busca vem.
Assim como a relatividade da busca, surge também a relatividade do quê se busca; dinheiro, revolução, roupa, namorado, e, no final das contas, tudo isso nada mais é do que acessórios para nós mesmos. Não queremos uma mudança direta em nós, sempre queremos que seja uma interferência externa, que nos faça mudar. Isso pode ser analisado de diversas maneiras, mas, como eu faço parte da doentia busca, me limito em descrever o fato.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Desejo, necessidade e vontade.

Preciso. Não mais nem menos do que as outras pessoas, mas preciso. É uma vontade arrebatadora, daquelas que vem e você não consegue se conter. Preciso mesmo. Não é como se fosse algo em vão, ou que eu simplesmente fosse jogar fora depois. É algo que preciso. Talvez não precise tanto, não seja algo imprescindível, mas é melhor viver com do que sem. Acho que pensando bem, preciso mesmo, afinal, precisar, necessitar e desejar entram no mesmo patamar; ora, se não desejo como vou precisar?Se não preciso como vou necessitar?Se não necessitasse de nada, como seria não desejar?
Agora eu quero. Quero, almejo, não sei nem se preciso mais. Exijo; mais do que exigir, sonho.Me vejo no direito de sonhar por isso, por aquilo, por tudo. Sonhar é querer; querer é poder, poder é ter, ter é precisar, precisar é necessitar, necessitar é desejar.
O processo cíclico me envolve, da cabeça aos pés, e agora já nãosei mais se preciso, se desejo, se necessito, se exijo. Já não sei mais o que é, porque quero, porque quero ter.