domingo, 11 de julho de 2010

Resignação

Os domingos acordados com o cheiro do frango assado no formo. Enjoado pela ressaca do dia anterior, levanta-se em passos vagarosos e vai para o banheiro, talvez lavar o rosto, talvez tentar vomitar o que o incomodava (quanta tolice, achar que vai tirar de si tudo oque incomoda com um gorfo qualquer; bom seria). Não consegue, nunca consegue. Lava o rosto e desce as escadas, já encenando a cara de sala para os parentes da sala.
Escuta a todos eles, um por um. Na verdade não precisa escutá-los, sabe exatamente o que cada um deles está falando, são alguns anos da mesma coisa.
Resolve dar umas risadas, sempre com a cabeça longe, pensando aonde poderia estar. Pensando aonde queria estar. Mas, se resigna e ali permanece.
Sentado no sofá verde cor-de-tédio, se afunda cada vez mais na solidão de tanta gente que o cerca.
Ligam a TV, é a hora do jogo. Xinga, vibra, torce. É uma fuga. É uma tentativa de fuga. Agora evita pensar no que te cerca, no armário repleto de fotos antigas de sorrisos forçados, com gente que mal sabe quem é.
- Essa cor do sofá realmente o incomoda.
É intervalo de jogo. Tomar uma cerveja, por que não? Mais uma, e outra, e outra, e outra.
Cochila no segundo tempo. Acorda com uns gritos desanimados do jogo roubado, do bandeirinha filho-da-puta que impediu o gol legal.
Reesquenta o almoço. Agora os familiares já foram embora, mas a presença pesada deles permanece na sala, no quintal, em tudo que o cerca.
Assiste á qualquer programa patético de domingo, como sempre, não está exatamente prestando atenção naquilo que vê. É só pra fugir daquilo que sente.
Deita na cama enfim, ansioso pelo fim do dia de domingo. Ansioso pela resignação do dia seguinte.
Pelas segunda-feiras com cara de segunda-feiras.

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