quarta-feira, 16 de julho de 2008

Uma quase análise...

Acho que mais do que poesia, a Rosa e a Náusea de Carlos Drummond de Andrade, expressa um sentimento praticamente secreto, que mantemos nulo para não enlouquecermos diantes de tanta selvageria.
Ele nos abre os olhos para algo mais: o terrível algo mais que decidimos nos desviar por conveniência. Conveniência esta que só faz acumular mais tédio, nojo e ódio que agora não é só mais ligado a sociedade, mas sim em nós mesmos.
Ao ler a Flor e a Náusea, não nos identificamos com o texto, sentimos sim, como os próprios criadores da poesia; o homem contido, do cansaço sobreposto, do conformismo evidente, e da última, não mais flor, mas agora somente uma pétala seca de esperança.
O tempo passa e o capitalismo com todos os seus podres ainda nos acorrenta. Acima de tudo isso, nós mesmos nos acorrentamos em algo que nem sabemos se acreditamos como monogamia, trabalho, estudo; nutrimos o sistema capitalista, mais do que isso, somos o próprio sistema capitalista; deixamos de ser seu alicerce e passamos a ser ele mesmo. Já não se sabe mais o quanto isso é tédio, nojo e ódio.
O suor do trabalho, confunde-se com as lágrimas do explorado, do penitenciário do escritório, de quem trabalha de pé no chão á quem desfila com seu sapato de couro. As lágrimas contidas se escondem nas mãos calejadas, na goma do terno, no nó bem dado da gravata nova. Se escondem.
O uniforme é objeto de tortura, é vestido para ir a caminho do nojo, do destino certo, do destino imposto. Nojo, repugnância. Do trabalho?Do uniforme?De quem veste?De quem o manda vestir?
A pétala, o caule, o espinho...Brotaram no asfalto...Cadê?Cadê o asfalto?Cadê a flor?Cadê a rosa do meu povo?Cadê a receita pra mudar, a saída pra fugir, o buraco para se esconder?Livre-se do material, espiritual, boçal. Livre-se do que te prende, do que te fere, do que te pune. Livre-se de quem, de que, de onde, de como. Livre-se, liberte-se de si...Quem sabe assim, encontramos a pétala que falta em cada um, para formar a rosa do povo.


Ps: Quem não leu a Rosa do Povo do Drummond, perdão pelo texto, que não irão entender. Mas vocês não sabem o que estão perdendo.

2 comentários:

Fontes disse...

Isso ficou melhor digitado do que no papel.

Desconfio que você gostaria de ver algo mais nos comentários do que elogios à forma do texto. Uma reflexão, com certeza, mas passageira. Não é fácil.

"O uniforme é objeto de tortura, é vestido para ir a caminho do nojo, do destino certo, do destino imposto."

Adorei essa parte, rima, dá pra fazer um poema. Bem Drummondiano, diga-se de passagem.

Alice Agnelli disse...

livre-se da alienação.
livre-se da reificação.
sejamos humanos, minha gente!

(ai, mais uma vez seu post me deixou boquiabertasempalavrasepensativa)