quarta-feira, 28 de março de 2012

Ele não era assim, não era. É isso que ela fica repetindo sem cansar, enquanto afaga o cachorro mimado, enquanto reclama de seus pés inchados e de seu estômago fodido e da sua febre que vai e vêm sem motivo. Deve ser nervoso por causa dele. Ela diz enquanto bate os dedos no sofá preto, olhando pra porta na esperança dele aparecer.
Como as pessoas ficam dessa forma? Ela me pergunta meio triste, meio cansada, meio se esquecendo de mim. Eu queria fazer esta mesma pergunta a ela, falar que eu existo porra, desabar problemas e amores estragados e talvez chorar, gritando que não sou tão forte assim quanto ela pensa que eu sou e que também vivo e preciso e respiro amor, por mais que não o demonstre, porque nunca me deixaram demonstrar.
Agora ela pica batatas, fazendo sopa. Ele está doente, ela balbucia. Esta é a última vez que vou fazer alguma coisa pra ele. Ela mente. Ela sabe.

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