sábado, 4 de fevereiro de 2012

Nosso eterno espreguiçar

Talvez se tomasse um banho gelado e fechasse bem os olhos, podia se teletransportar para um lugar mais confortável, longe das tiranias perversas que se auto-impõe. Talvez remontar o quebra-cabeça de sua vida desordenada fizesse algum sentido - pudesse trazer alguma epifania pra se livrar de tudo aquilo que sempre se incomodou. Ou então, só se esconder, com covardia, por debaixo de seu cobertor de lã; afinal, nunca fizera de fato samba e amor até mais tarde. O sono, muito sono, este sim, sempre esteve por lá. Na linha tênue que separa a preguiça da euforia. Mas, oras, sempre pendia pra preguiça. Preguiça é fácil, preguiça é fuga.
Talvez bastasse pensar um pouco, meditar um pouco sobre como alinhar sua rotina, sobre como fazer desse ano, realmente um ano novo, de fato. Não pela astronomia, não pela cosmologia, mas por si. Ano-novo. A ideia lhe fazia o coração palpitar mais forte. O que fazer com aquela porção lotada de dias, horas, minutos, segundos? O que medir, transgredir, revolucionar com tanto tempo?
A ideia do banho gelado retorna - talvez alguns poucos minutos do novo ano para banhar-se poderia ser uma boa ideia. Talvez o cobertor de lã nem fosse tão confortável assim. Talvez cobrir-se com o sol quente pudesse ser ainda mais confortável. Substituir a preguiça de outrora por histeria, abraçar a loucura que paira na mente, a ideia de que no fim das contas o ano-novo é só um ano a mais (ou a menos) na sua vida. O inferno não são os outros, está aqui. Com uma linda fantasia embriagada de carnaval, que por vezes volta-se para mim, pensou. Quando o carnaval acaba, o inferno tira sua máscara, abre com volúpia um sorriso sádico, que atormenta, que insiste em fazer lembrar tudo aquilo que queria esquecer. A trazer uma esperança masoquista de um tempo que acreditávamos que havia acontecido, mas, que de fato, não aconteceu.


que tudo se foda, disse ela, e se fodeu toda. Paulo Leminski.

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