quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Conclusão sem número

A gente não chegou a amar o que fomos, porque nunca de fato chegamos a ser.

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Sei apenas que estou vivo. Nada mais sei. Sinto em mim um sangue que talvez exista para ser derramado e não para correr frouxamente pelas veias. Existem palavras essenciais: amor, infância,pureza, espaço, tempo. Com elas eu escreveria um romance, cem romances. O amor como atitude estética diante da vida, realização da pureza no espaço e da infância no tempo. Tudo mais é literatura.

sábado, 25 de fevereiro de 2012

Perdi/ganhei uma hora.
O fim do horário de verão, a insônia, os devaneios loucos e a mania incessante de sofrer.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

E tu?

Volta e meia assim
meio sem entender, no intervalo de um iê-iê-iê ou outro
pinta um vazio.
Penso eu que é o danado
do passarinho azul
que anda passeando
sem me avisar.
Falta chave na gaiola. Que bom.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Quarta feira de cinzas (e desbotada)

Nos tempos do carnaval, os sentimentos se refugiam todos. Dobramos todos meticulosamente no guarda-roupa, intactos, quase involuntariamente. Colocamos o amor na gaveta, a saudade no cabide e a tristeza escondida no criado-mudo.
As loucuras no bixiga, a embriaguez no centro, os sorrisos na augusta, estes também não ficam conosco.
Na quarta de cinzas, despejamos o carnaval nas ruas e voltamos a vestir as roupas do guarda-roupa. Como deve ser.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

teve um tempo que viver um dia era uma década. E que década. E que dias.

sábado, 4 de fevereiro de 2012

Nosso eterno espreguiçar

Talvez se tomasse um banho gelado e fechasse bem os olhos, podia se teletransportar para um lugar mais confortável, longe das tiranias perversas que se auto-impõe. Talvez remontar o quebra-cabeça de sua vida desordenada fizesse algum sentido - pudesse trazer alguma epifania pra se livrar de tudo aquilo que sempre se incomodou. Ou então, só se esconder, com covardia, por debaixo de seu cobertor de lã; afinal, nunca fizera de fato samba e amor até mais tarde. O sono, muito sono, este sim, sempre esteve por lá. Na linha tênue que separa a preguiça da euforia. Mas, oras, sempre pendia pra preguiça. Preguiça é fácil, preguiça é fuga.
Talvez bastasse pensar um pouco, meditar um pouco sobre como alinhar sua rotina, sobre como fazer desse ano, realmente um ano novo, de fato. Não pela astronomia, não pela cosmologia, mas por si. Ano-novo. A ideia lhe fazia o coração palpitar mais forte. O que fazer com aquela porção lotada de dias, horas, minutos, segundos? O que medir, transgredir, revolucionar com tanto tempo?
A ideia do banho gelado retorna - talvez alguns poucos minutos do novo ano para banhar-se poderia ser uma boa ideia. Talvez o cobertor de lã nem fosse tão confortável assim. Talvez cobrir-se com o sol quente pudesse ser ainda mais confortável. Substituir a preguiça de outrora por histeria, abraçar a loucura que paira na mente, a ideia de que no fim das contas o ano-novo é só um ano a mais (ou a menos) na sua vida. O inferno não são os outros, está aqui. Com uma linda fantasia embriagada de carnaval, que por vezes volta-se para mim, pensou. Quando o carnaval acaba, o inferno tira sua máscara, abre com volúpia um sorriso sádico, que atormenta, que insiste em fazer lembrar tudo aquilo que queria esquecer. A trazer uma esperança masoquista de um tempo que acreditávamos que havia acontecido, mas, que de fato, não aconteceu.


que tudo se foda, disse ela, e se fodeu toda. Paulo Leminski.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Madrugada Radiguet

- Perdi o bonde e a esperança, volto pálido para casa, cismando na derrota incomparável, sem nenhuma inclinação feérica, com a calma que Bilac não teve para envelhecer, tudo somado devias precipitar-te de vez nas águas, seria uma rima, não seria uma solução - eta vida besta, meu Deus.