quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Alvorada



Ao som dele que me diz tantas coisas. Ao clima da chuva, que me diz tantas coisas. Ao bode total, que me faz pensar em tantas coisas.
Vai chegar a noite. E a lua que me fará pensar em tantas coisas. E as coisas que me fazem sentir tantas coisas...
E as coisas, que oras, são tantas coisas.
E amanhece (amanheço) novamente.
Queixo-me ás rosas...
"Como me sinto? Como se colocassem dois olhos sobre uma mesa e dissessem a mim, a mim que sou cego: isso é aquilo que vê, essa é a matéria que vê. Toco os dois olhos sobre a mesa, lisos, tépidos ainda, arrancaram há pouco, gelatinosos, mas não vejo o ver. É assim que sinto, tentando materializar na narrativa a convulsão do meu espírito, e desbocado e cruel, manchado de tintas, essas pedras escuras do não saber dizer, tento amputado conhecer o passo, cego conhecer a luz, ausente de braços tento te abraçar."
Hilda Hilst.

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