Desde pequeno esperava todos os dias por carta. Das que diziam que sua vida ia melhorar, do anúncio de uma herança milionária, de qualquer coisa que o tirasse dali.
Certo dia, naquela mesma casa e naquela mesma caixa enferrujada de correio, recebera o convite de seu casamento. Ia se casar e recebeu o convite ou intimato ou como quer que prefiram chamar. E lá foi. Afinal de contas era uma carta, a carta era um convite, jamais deixaria passar uma carta depois de tantos anos esperando por elas.
E aí então se casou. E na sua casa, pintada de azul, tinha uma caixinha de correios prateadinha e simpática, que combinava bem com o ar da casa. A caixinha tinha uma chave especial para a entrega das cartas e todos os dias a tarde, depois do trabalho, sem faltar um dia, levava a chave ao buraco com a esperança de cartas. Mas só o que recebera era contas, intermináveis, inalcançáveis e impagáveis. Mas, era uma carta, a carta era um convite, jamais deixaria passar uma carta depois de tantos anos esperando por elas.
E o tempo passou e as rugas chegaram e a dificuldade de andar também. Mas o anseio pelas cartas sempre esteve em sua cabeça. E a chave e a caixinha já estavam um pouco desgastados, assim como as paredes azul da casa um pouco desbotadas, mas a tradição da caixinha do correio estava ali.
Recebera um dia, de outono, mas já com cheiro de jasmin, uma carta curiosa, sem remetente, mas com o destinatário certeiro "PARA VOCÊ". Estranhou não ter títulos de bancos ou de grandes empresas ou de um hospital ou outro que agora volta e meia lhe mandavam opções de convênio para a terceira idade (cartas novas, intimações novas, convites novos, convites aceitos). E abriu. Leu, releu, ficou sem entender. Pensou em relutar. Mas, era uma carta, a carta é um convite, jamais deixaria passar uma carta depois de tantos anos esperando por elas. Sendo assim, sentou, pitou seu cigarro em frente a caixa mais ou menos prateada dos correios. Fechou os olhos.
A carta dizia "sua hora chegou".
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