quinta-feira, 12 de abril de 2012

Correio elegante

Desde pequeno esperava todos os dias por carta. Das que diziam que sua vida ia melhorar, do anúncio de uma herança milionária, de qualquer coisa que o tirasse dali.
Certo dia, naquela mesma casa e naquela mesma caixa enferrujada de correio, recebera o convite de seu casamento. Ia se casar e recebeu o convite ou intimato ou como quer que prefiram chamar. E lá foi. Afinal de contas era uma carta, a carta era um convite, jamais deixaria passar uma carta depois de tantos anos esperando por elas.
E aí então se casou. E na sua casa, pintada de azul, tinha uma caixinha de correios prateadinha e simpática, que combinava bem com o ar da casa. A caixinha tinha uma chave especial para a entrega das cartas e todos os dias a tarde, depois do trabalho, sem faltar um dia, levava a chave ao buraco com a esperança de cartas. Mas só o que recebera era contas, intermináveis, inalcançáveis e impagáveis. Mas, era uma carta, a carta era um convite, jamais deixaria passar uma carta depois de tantos anos esperando por elas.
E o tempo passou e as rugas chegaram e a dificuldade de andar também. Mas o anseio pelas cartas sempre esteve em sua cabeça. E a chave e a caixinha já estavam um pouco desgastados, assim como as paredes azul da casa um pouco desbotadas, mas a tradição da caixinha do correio estava ali.
Recebera um dia, de outono, mas já com cheiro de jasmin, uma carta curiosa, sem remetente, mas com o destinatário certeiro "PARA VOCÊ". Estranhou não ter títulos de bancos ou de grandes empresas ou de um hospital ou outro que agora volta e meia lhe mandavam opções de convênio para a terceira idade (cartas novas, intimações novas, convites novos, convites aceitos). E abriu. Leu, releu, ficou sem entender. Pensou em relutar. Mas, era uma carta, a carta é um convite, jamais deixaria passar uma carta depois de tantos anos esperando por elas. Sendo assim, sentou, pitou seu cigarro em frente a caixa mais ou menos prateada dos correios. Fechou os olhos.
A carta dizia "sua hora chegou".

Nenhum comentário: